NEM LULA NEM BOLSONARO REPRESENTAM OS VALORES CRISTÃOS
Parem de dar a césar o que é de Deus e a Deus o que é de César.
Não é competência ministerial de pastores e líderes eclesiásticos dizer em qual candidato político partidário um cristão deve votar. Jesus não os chamou para isso. A liberdade de consciência é um princípio e valor cristão. Violar isso, por causa de política ou ideologia, é danoso, é manipulação e abuso espiritual.
Estamos vivendo tempos estranhos de cooptação política da igreja brasileira onde líderes cristãos dão ao atual César o que é de Deus e a Deus o que é de César. A cooptação política da igreja pelo bolsonarismo, nos últimos anos, tem feito muitos cristãos justificarem o injustificável e atacarem, brigarem (em palavras e fisicamente) seus irmãos por causa de discordância política.
No novo testamento, o povo de Deus estava sofrendo escravizado pelo regime romano (escravidão esta bem diferente da escravidão moderna, cabe ressaltar). Os judeus esperavam um messias político, que lhes libertaria das garras do império romano, Jesus, o libertador de Israel e do mundo, ao vir à terra disse a todos: “meu reino não é deste mundo” (João 18:36–38). Ao invés de Jesus buscar poderio político ou mesmo criar uma “agenda cultural” da igreja, Jesus disse: “dai a césar o que é de césar e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:15–22).
Jesus exerceu a sua cidadania (pagou impostos, por exemplo — cf. Mateus 22:15–22), mas ele nunca se associou à uma política partidária, e é por isso que não faz sentido a igreja de Jesus se associar partidariamente a um candidato ou a um segmento político. A igreja foi chamada por Deus para ser voz profética e fiscalizar e condenar, inclusive, as atitudes iníquas do rei. Quando a igreja se associa político-partidariamente, por causa de poderio e influência, há uma corrupção, biblicamente falando.
Há uns anos que os evangélicos têm tido um poderio político considerável aqui no Brasil. Os evangélicos têm definido o futuro político da nação. Biblicamente falando, isso é muito estranho. Como disse Alexandre Miglioranza: “Que tempos sombrios onde as igrejas definem eleições políticas. Justamente o que não deve definir uma igreja é a política governamental. De acordo com Apocalipse, a igreja resiste à política do mundo. Ao invés de igrejas apocalípticas temos igrejas políticas. Um contrassenso.”
Como o reino de Deus avança se a igreja está cooptada por um césar? Não avança. É o que temos vivido nos últimos anos. Pastores de púlpito defendendo o Bolsonaro e o bolsonarismo, chamando-o de presidente cristão. Bolsonaro não é cristão! Ele pode se dizer cristão, mas segundo Jesus “pelos frutos se conhece a árvore” (Lucas 6:44). Um cristão age segundo os frutos do espírito, isto é, como diz o apóstolo Paulo: “o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.” (gálatas 5:22). A forma de agir sistêmica e repetidamente do Bolsonaro — e de sua família — se assemelha mais com os frutos da carne, a saber: “(…) impureza, lascívia, Idolatria, (…), inimizades, porfias, (…), iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, (…).” (Gálatas 5:19–21)
O que dizer da má gestão da pandemia — a recusa na compra de vacinas, a imitação de pessoas morrendo, as falas ásperas com relação aos familiares que perderam pessoas para o vírus da covid-19? Jesus nunca fez e nunca faria isso, isso não é uma atitude cristã -, que levou quase 700.000 mortes? Que patriotismo é esse que diariamente caçoa das vidas dos brasileiros? Que defesa de família é essa que anda em jet-ski — e se importa mais em baixar impostos de jet-ski do que propor programas sólidos de redução à fome e assim ajudar famílias carentes — enquanto famílias estão esfomeadas ou enlutadas pelos seus entes queridos? O que dizer das leis das quebras de leis ambientais? Se você é cristão, você sabe que Deus lhe deu um mandato cultural, em gênesis, de cuidado da criação e não de destruição da criação. Diz a palavra que “quem pratica a verdade vem para a luz, para que se veja claramente que as suas obras são realizadas em Deus.” (João 3:21), por que então o nosso presidente tão cristão põe sigilo de 100 anos sobre questões de corrupção no seu governo “cristão” com relação à rachadinhas, compras suspeitas de vacinas, corrupção no MEC, etc? Do que o Bolsonaro tem tanto medo? Porque se esconde? Porque faz aparelhamento na PRF? Põe e tira ministros a seu bel prazer? Que tipo de gestão pública administrativa é essa?
Bolsonaro tem relação próxima com o governo islâmico e anticristão da Arábia Saudita. Bolsonaro tem relação próxima com o governo de Putin, um governo anticristão e opressor. Bolsonaro não é um santo. Na verdade, é uma pessoa que usa de valores caros a nós cristãos, instrumentalizando a fé cristão (o que mais me irrita nessa história toda… o uso da palavra de Deus, segundo os seus interesses. Mais parece os fariseus e saduceus e mestres da lei que liam as escrituras, citavam versículos da Torá, mas erravam por não conhecer as escrituras, nem o poder de Deus, assim como Jesus disse em Mateus 22:29. É esse o presidente “cristão” de vocês?
E também o PT não representa valores cristãos. Lula também instrumentaliza a fé cristã para ganhar votos. A corrupção do PT por anos foi ruim para a nação e é uma vergonha para nós. A questão do processo judicial de Lula que foi absolvido, sem uma justiça efetiva à corrupção cometida é um problema grave. É ruim que políticos brasileiros, por causa de dinheiro, consigam “limpar o seu nome” e assim concorrer a cargos públicos, sem haver uma justiça verdadeira. Um cristão, pelas suas pautas morais, de defesa da vida do útero até o túmulo (isto é, um cristão deve ser contra o aborto, mas também contra o racismo, o machismo, a violência contra a mulher, ser contra a tortura… ser contra tudo o que tire a dignidade humana), não põe a mão no fogo por gestores que desejam legalizar o aborto ou as drogas ou coisas semelhantes.
A ideologia do PT é sim contrária às escrituras, mas a ideologia de Bolsonaro também é contrária às escrituras. De nada adianta se dizer contra o aborto e depois deixar para morrer vários na Amazônia, abortando assim crianças e adultos fora do ventre.
As opções que temos para o segundo turno são ruins. Não vou passar pano para nenhum dos dois lados. Me preocupa a cooptação política do Bolsonaro nas igrejas. E essa adoração que a igreja está tendo a ele, onde não se considera mais irmãos quem crê em Cristo, mas quem votar em Bolsonaro. Que Bíblia é essa que vocês estão lendo?! Falei mais sobre o Bolsonaro, pois ele é quem está governando e é a ele a quem os cristãos chamam de “presidente cristão”. Tendo em vista que as duas opções são ruins e que não representam os valores cristãos, mas que instrumentalizam-o, é bom que pastores e líderes se arrependam da manipulação e da violação de consciência que tem feito em suas ovelhas em favor de um espectro político específico, a saber Jair, pintando-o de santo. Somente Jesus é o Messias, não o Bolsonaro. Somente Jesus é a esperança, não o Lula. Parem de dar a César o que é de Deus e a Deus o que é de César.
Não é ser apoiador de Lula ou Bolsonaro que faz um cristão. É a completa rendição a Jesus de Nazaré que faz um cristão. Manipulação política por parte das nossas lideranças da igreja é pecado! Cooptação política partidária da igreja é pecado. Deus vai cobrar por cada líder e pastor que tem violado a consciência de seus pequeninos por causa de política e ideologia, seja ela de esquerda e de direita. Deus está vendo e Ele vai julgar.
Sou conservadora (antiaborto, sou contra o feminismo, contra a corrupção, contra o racismo, xenofobia, contra adultização e erotização das crianças…), mas não posso apoiar Bolsonaro e dizer que ele é cristão, pois ele fere MUITOS princípios e valores cristãos, os ensinos claros e definitivos de Jesus Cristo, o meu Senhor. Também não sou PT e não acho que o Lula é a salvação. Como diz Tim Keller, o Evangelho não se encaixa em sistemas bipartidários — esquerda e direita. Keller diz que “nem o partido democrata , nem o republicano consegue capturar todos os pontos sociais-éticos cristãos.”. A igreja não deveria ser, institucionalmente, nem Lula nem Bolsonaro.
Encerro dizendo que nessas eleições, concordo em gênero, número e grau com o pastor Guilherme de Carvalho quando ele diz que:
Precisamos nos arrepender, como igreja, e imediatamente dar a césar o que é dele.
