Não viole a consciência do seu irmão

Jacira Pontinta Vaz Monteiro
3 min readMay 18, 2022

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Costumamos chamá-los de “políticos” e talvez seja esse o problema. A idolatria nasce também da impessoalidade, do idealismo. A minha opinião é que o melhor nome para chamá-los é “administradores públicos”, pois, assim, teremos uma noção maior da função que eles exercem na sociedade. E, mais do que isso, cobraremos resultados. Um administrador público — ou político, como queira — deve ser observado (se as promessas eleitoreiras estão sendo cumpridas) e cobrado (caso não esteja cumprindo com os seus deveres).

A partir do momento que a política deixa de ser vista como uma ferramenta de gestão para o bem estar da sociedade e passa a ser vista como uma arena de futebol (com times a serem defendidos com unhas e dentes e em que o adversário é visto como inimigo), nós perdemos o fio da meada e caçamos a destruição da paz social. A Igreja, apesar de ter sido chamada por Cristo para promover a Shalom, não está isenta de cair no canto da sereia da futebolização da política. E, quando isso ocorre, a liberdade de consciência dos irmãos é, por muitas vezes, violada.

A Bíblia é um livro que trata da liberdade de consciência. Diversas vezes, nas cartas Paulinas, o apóstolo fala que nas coisas secundárias à fé, deve-se respeitar a liberdade de consciência individual. A Bíblia não toma partido ou espectro político algum, portanto, a Igreja (enquanto comunidade) não deveria também fazê-lo. Como disse o pastor Timothy Keller, “as históricas posições cristãs sobre questões sociais não correspondem aos alinhamentos políticos contemporâneos”. Sendo assim, a Igreja não se encaixa em um sistema bipartidário.

É lamentável a prostituição ao deus-política que temos vivido em nossas comunidades. Pessoas se prostram perante um determinado candidato e lhe prestam culto e adoração e querem que a igreja toda se dobre perante esse seu senhor. Não repreendem atitudes repreensíveis e violam a consciência dos irmãos na prerrogativa de que determinado lado político que é o bíblico.

Irmão, tenha temor de Deus e não viole a consciência dos irmãos ao seu redor, especialmente se estão sob sua liderança por conta de política. Não use a sua liderança para convencer os seus liderados a votarem no seu candidato de estimação, pois isso é idolatria e violação de consciência do irmão. E mais: deixe de chamar de não-crente a algum de seu irmão só porque ele tem uma posição política diferente da sua, você não é o porteiro do céu e você não é quem adiciona ou retira algum membro ao corpo de Cristo. Não dê falso testemunho contra o seu próximo, não quebre o nono mandamento.

São tempos delicados e é preciso ter muita sabedoria, inclusive, sabedoria digital. O atual gestor do poder executivo reuniu vários adolescentes cristãos influencers no palácio, recentemente. A ideia que passa é a de que esses meninos influenciem seus seguidores no voto. O exercício da cidadania, no entanto, deve ser feito de maneira livre, espontânea, pessoal e bem pensada e não a partir de influências, seja ela liderança digital ou eclesiástica.

As eleições estão chegando, portanto, nós, enquanto cristãos, devemos tomar um delicado cuidado para não violar a consciência de ninguém e nem amputar do corpo de Cristo pessoas a quem Ele não amputa. Cuide de si e mantenha sua consciência limpa. Cuidado com a idolatria política. Outra vez digo, cuidado com a idolatria política.

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Jacira Pontinta Vaz Monteiro

Autora de O Estigma da Cor. Mestranda em Educação, Arte e História da Cultura (Mackenzie). Pós-graduanda em Teologia Bíblica e Exegética do NT (FICV).